Por Karla Martins
“Dizem que sou louco, por eu ser assim, mas louco é quem me diz que não é feliz, não é feliz …”
O Coringa é a loucura nossa de cada dia. O deboche de uma sociedade em frangalhos, que há praticamente 50 anos permanece conservadora, preconceituosa e cruel.
A Gotham city, melhor metáfora pra pensar nossa sociedade, segue cada vez mais desprezando doentes psiquiátricos, considerando-os expurgo e escondendo-os.
O coringa “surfa” nessa sociedade e aponta com seus dedos ágeis pra todos os malefícios, vícios e hipocrisias.
Joaquim Phoenix nos tira o fôlego, atuação magistral e orgânica, que sai da tela e se aloja ao nosso lado, na sala de cinema.
A violência não praticada em muitas cenas, mas que existe como subtexto do filme, explode em cada espectador.
Saí do cinema com o sentimento de quem recebeu um golpe, com um hematoma emocional.
Mesmo na cena final, na alegoria do clown, que brinca com aquela imensidão branca, com gagues ( piadas) estereotipadas, nada perdoa o espectador.
Tudo dói em nós!
Será preciso sepultar o personagem sádico, como dizia Nelson Rodrigues: “o personagem é vil para que não o sejamos!”.
Nada mais precisa ser dito, no entanto,não conseguiremos fazer a catarse do Coringa: a vilania dele nos persegue brutalmente.
Estamos vivendo Gotham na sua pior fase. E, portanto, cada um receba o que há de melhor ou pior. Só não podemos ficar calados, inertes, temos que reagir!
Adoro ser provocada pela arte. Adorei, adorei mesmoooo o coringa de Phoenix. O mais magistral, porém, são os criadores do personagem ( uma trinca composta de um artista que criou o conceito e dois que fizeram o primeiro desenho do vilão) que, 79 anos depois de sua primeira aparição, consegue estimular atores e criadores, com tanto vigor.
Esse é o poder incontrolável da arte, evoééé!!!