Semana passada, o governador Gladson Cameli sentiu um pouco da ressaca pós-eleitoral.
Começou a pagar pela aventura de ter abandonado a quem lhe ajudou a se eleger, para embarcar em apoios solo na disputa pelas prefeituras, particularmente em Rio Branco.
A rebordosa foi sentida na Assembleia Legislativa (Aleac), quando da apresentação da proposta de reforma administrativa, que visa, segundo o anunciado, a redução de 200 cargos na estrutura governamental.
A economia anual seria em torno de R$ 19 milhões. É muito pouco para tanto alarde.
Cameli foi emparedado pelos deputados da sua base, que perceberam a possibilidade de ficarem sem espaços no governo.
A revolta obrigou o governador a recuar e, ao mesmo tempo, ameaçar.
“Se a reforma não for aprovada, não poderei contratar as pessoas que estão no cadastro de reserva da Polícia Militar”, avisou o governador.
Esse é o tipo de aviso que mexe pouco com os parlamentares. Até porque sabem que a convocação nada tem a ver com a redução de cargos.
Mas os parlamentares, acatando proposta do petista Daniel Zen, retiraram o projeto da pauta. Governo e deputados da base ganharam tempo para negociar.
Depois de muita conversa, o projeto deverá ir a plenário nesta terça-feira. E caminha para ser aprovado. Os deputados oposicionistas e os que se dizem independentes sinalizaram votos pela aprovação.
O problema do governo reside em convencer a sua própria base, onde há muita gente sendo orientada por outras lideranças a engrossar o pescoço.
Tanto pescoço grosso tem explicação: a partir de janeiro será o pescoço de cada uma parlamentar que estará na guilhotina. É quando terá início as eleições de 2022.
Essa será a terceira reforma administrativa apresentada por Cameli em menos e dois anos de mandato. O governo continua estagnado. Atolado na sua ineficiência e incompetência.
Nas reformas anteriores, o governador fez o contrário do que prometera em campanha: em vez de diminuir, aumentou a quantidade de cargos e, para completar a farra, majorou os salários.
O resultado não poderia ser outro.
A folha de pagamento do governo inchou. Hoje, está quase 60% da Receita Corrente Liquida, limite muito superior ao que estabelece a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Por desrespeitar a LRF, o governador e o Estado podem sofre duras sanções. Por isso, a necessidade de fazer os cortes.
Ocorre que os cortes previstos na reforma podem minimizar a situação de Gladson com a lei, mas irá, com certeza, ampliar a crise politica.
Essa crise, aliás, é visível. Gladson saiu menor do processo eleitoral. Os seus antigos aliados sonham em ocupar a sua cadeira. E estão trabalhado para isso.
Com essa reforma, o governador tenta, desesperadamente, retomar as rédeas do seu governo. Por ser pouco afeito ao trabalho, ele deixou as coisas soltas demais. A ponto de a sua Casa Civil promover várias nomeações sem o seu conhecimento.
Está mudando as nomenclaturas das funções para ele mesmo ter o prazer de nomear, sem necessitar de intermediários.
Há desconfiança do governador com o seu chefe de Casa Civil, Ribamar Trindade. Também não há apreço do governante com o seu líder na Aleac, Gehlen Diniz (PP).
Em dobradinha com Trindade, Diniz teria abocanhado mais cargos do que é possível imaginar a vã filosofia de quem sonha por mais e mais espaços.
Essa desconfiança fica latente quando se tem o conhecimento de que a reforma foi gestada diretamente na Procuradoria-Geral do Estado, sem a participação da Casa Civil, que não foi chamada nem para enviar a matéria ao Parlamento.
Cameli parece, também, ter enterrado o seu conselho politico. Está claro que isolou o ex-comunista Moisés Diniz da sua articulação politica.
Gladson Cameli reforma a estrutura do governo, mas não irá resolver nada se não se reformar.
Os seus inimigos estão ao seu lado.
Dizem que o governador parou de apreciar, com a frequência lhe fez cair no Álcool Zero, a água que passarinho não bebe.
Pode ser verdade. Como é fato que ainda terá muitas dores de cabeça causadas pelas ressacas políticas.